O Dilema Ético e Psicológico de Requerer Atividades Laborais Durante a Licença Médica por Adoecimento Mental

CRISE POLICIALARTIGOSDESTAQUES

Erick Guimarães

7/29/20235 min read

Neste texto, discutimos o dilema ético e psicológico de requerer atividades laborais durante a licença médica por adoecimento mental. Baseados no que tem sido discutido no Projeto Cuide-se Policial, exploramos os impactos do ambiente de trabalho na saúde mental dos servidores, compreendendo a licença médica como um período de cuidado necessário para a recuperação emocional e física. Argumentamos contra a convocação de servidores em licença para trabalhar, destacando o impedimento do organismo voltar ao estado de relaxamento e repouso, fundamentais para superar problemas de saúde mental. Convidamos você a ler mais sobre essa delicada questão e a importância de promover um ambiente de trabalho saudável e respeitoso para todos. Leia o texto completo para compreender melhor esse tema crucial.

Papo, infelizmente, frequente....

Por Erick Guimarães

Perito Criminal, Especialista em Políticas e Gestão da Segurança Pública, Criminologia e, Engenharia Ambiental. Professor há mais de 20 anos, Físico (bacharelado e licenciatura) pela UnB, psicanalista em formação.

O Dilema Ético e Psicológico de Requerer Atividades Laborais Durante a Licença Médica por Adoecimento Mental

A relação entre o ambiente de trabalho e a saúde mental tem sido uma questão cada vez mais discutida nos últimos anos. O crescente reconhecimento dos impactos psicológicos adversos que certas condições laborais podem acarretar tem levantado debates importantes sobre como proteger a saúde mental dos servidores. No entanto, em muitos casos, ainda nos deparamos com a situação delicada em que um servidor sob licença médica por adoecimento mental é solicitado a realizar atividades laborais, contrariando as recomendações médicas. Neste texto, abordaremos, de maneira breve, os problemas éticos e psicológicos associados a essa prática, baseando-nos no que tem sido apresentado no acervo do Projeto Cuide-se Policial, além de explorar conceitos das áreas da psicanálise, psicologia e do direito.

O Impacto do Ambiente de Trabalho na Saúde Mental

É inegável que o ambiente de trabalho pode desempenhar um papel significativo na saúde mental dos servidores. Como tem sido destacado no Projeto Cuide-se Policial, a exposição a situações de estresse, pressão excessiva, assédio moral, falta de suporte e outras condições adversas podem levar ao desenvolvimento de doenças mentais, como ansiedade, depressão e transtornos de estresse pós-traumático. Portanto, é essencial reconhecer que as circunstâncias do trabalho podem motivar o adoecimento mental de um servidor.

A Licença Médica como Necessidade de Cuidado, e Direito do Servidor

Quando um servidor é diagnosticado com problemas de saúde mental e é recomendada a licença médica, esse período afastado das atividades laborais é um ato necessário de cuidado e proteção à sua saúde física e emocional. A licença médica visa proporcionar um espaço de recuperação e tratamento, possibilitando que o indivíduo restaure seu equilíbrio emocional e retorne ao trabalho de forma saudável.

O Dilema Ético: Atividades Laborais Durante a Licença Médica

No entanto, muitas vezes, surge o dilema ético de requerer que o servidor em licença médica realize atividades laborais mesmo quando seu diagnóstico requer repouso e afastamento total do trabalho. Isso pode ocorrer em situações em que a instituição acredita que a presença do servidor é imprescindível para o andamento dos projetos, para cobrir lacunas de pessoal ou para lidar com questões urgentes.

Todos contra a Realização de Atividades Laborais durante o adoecimento...

Existem argumentos fortes contra a convocação de um servidor em licença médica para resolver problemas de trabalho. Em primeiro lugar, o retorno prematuro do contato do servidor com o ambiente de trabalho pode impedir o organismo de entrar em um estado de relaxamento e repouso necessário para superar situações ligadas a trauma, estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, entre outros problemas de saúde mental. O ambiente de trabalho, muitas vezes, é uma fonte de tensão e desencadeador de gatilhos emocionais, prejudicando a recuperação adequada do servidor.

É fundamental considerar os riscos e consequências de solicitar que um servidor envolva-se com questões relacionadas ao ambiente de trabalho durante sua licença médica por adoecimento mental, especialmente quando o próprio ambiente ou as relações interpessoais no trabalho foram determinantes para seu adoecimento. Nesses casos, a exposição a elementos do ambiente laboral pode representar um gatilho mental para a reativação de traumas emocionais vivenciados. A presença de situações traumáticas, como assédio moral, discriminação ou sobrecarga de trabalho, pode ter sido o fator desencadeante do adoecimento psíquico do servidor. Portanto, requerer que ele retorne a tais situações durante a licença médica pode agravar seu estado emocional, dificultando a recuperação e perpetuando o ciclo do adoecimento. É essencial compreender e respeitar a necessidade do servidor de afastar-se do ambiente de trabalho durante o período de licença, permitindo-lhe espaço para o autocuidado, o acolhimento das emoções e o tratamento adequado, visando sua recuperação plena e a promoção de um ambiente laboral mais saudável e empático.

Além disso, requerer atividades laborais durante a licença médica pode ser interpretado como uma falta de sensibilidade e empatia para com o servidor em questão. É essencial compreender que o processo de recuperação e tratamento de doenças mentais é individual e demanda tempo. Forçar o servidor a trabalhar durante esse período pode transmitir a mensagem de que sua saúde e bem-estar não são prioridades.

Ainda, é importante considerar a questão legal. A legislação trabalhista, especialmente aquela relacionada à licença médica, é elaborada com base em princípios de proteção à saúde e à dignidade dos servidores. Ao requerer atividades laborais durante a licença médica, a instituição pode estar violando esses princípios e abrindo espaço para possíveis litígios jurídicos.

Concluindo...

O dilema ético e psicológico de requerer atividades laborais durante a licença médica por adoecimento mental é uma questão delicada e complexa. O equilíbrio entre as necessidades da instituição e a proteção à saúde do servidor deve ser alcançado por meio de políticas internas bem definidas e da conscientização de todos os envolvidos. A saúde mental dos servidores deve ser sempre a prioridade, e cabe à sociedade como um todo trabalhar em conjunto para promover um ambiente de trabalho respeitoso e saudável, onde o bem-estar de todos seja protegido e valorizado. Nesse sentido, é fundamental que a instituição compreenda e respeite o período de licença médica como um momento necessário para a recuperação do servidor e não exija sua presença ou contato com demandas de trabalho durante esse período delicado de tratamento e cuidado.

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