Trauma Vicário: Conceito inicial e relação com a polícia

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Erick Guimarães

7/20/20234 min read

O trauma vicário é um termo usado para descrever os efeitos psicológicos negativos que as pessoas podem experimentar quando estão expostas ao trauma de outra pessoa. Isso pode acontecer com qualquer pessoa que seja regularmente exposta ao trauma, como profissionais da saúde mental, policiais, bombeiros, profissionais da educação, etc.

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Por Erick Guimarães

Perito Criminal, Especialista em Políticas e Gestão da Segurança Pública, Criminologia e, Engenharia Ambiental. Professor há mais de 20 anos, Físico (bacharelado e licenciatura) pela UnB, psicanalista em formação.

O termo trauma vicário, às vezes também chamado de fadiga da compaixão, descreve um fenômeno geralmente associado ao “custo de cuidar” dos outros. É definido como uma espécie de desgaste emocional que alguns profissionais da área de saúde, segurança pública, ou de proteção social e civil experimentam.

O trauma vicário, ou trauma indireto ocorre como resultado de testemunhar ou ouvir sobre experiências traumáticas vividas por outra pessoa. É uma forma de trauma que pode afetar indivíduos que têm empatia ou conexão emocional com a pessoa que passou pela situação traumática.

Em geral, o trauma vicário é mais comum em profissionais que trabalham em áreas de cuidado ou auxílio ao próximo, como profissionais de saúde, assistentes sociais, bombeiros, policiais, psicólogos, etc. Esses profissionais podem ser expostas regularmente a histórias de sofrimento e experiências traumáticas de outros, afetando sua própria saúde emocional.

Parece familiar, colega da segurança pública/justiça ?

As pessoas que experimentam trauma vicário podem desenvolver sintomas semelhantes aos do trauma direto ("convencional"), como ansiedade, estresse, pesadelos, dificuldades de concentração, mudanças de humor, insônia, sensação de apatia ou desamparo. É fundamental que os profissionais que trabalham em áreas onde estão expostos a situações traumáticas recebam apoio, acompanhamento psicológico, e recursos adequados para lidar com o trauma vicário e evitar o consequente esgotamento emocional.

A compreensão do conceito de trauma vicário é muito importante para que se possa fornecer o suporte necessário a esses profissionais, permitindo-lhes reconhecer esse risco, cuidar de sua saúde mental e garantir que possam continuar a prestar o serviço fundamental para aqueles que precisam.

Vamos fazer uma breve análise introdutória da relação desse conceito com o trabalho policial....

Pensando numa abordagem psicanalítica, que tem sido a minha ao tratar desse tipo de assunto no contexto da segurança pública, o conceito de trauma vicário tem enorme relevância quando examinamos a profissão policial e sua complexa relação com o sofrimento humano. A rotina de um policial é frequentemente permeada por experiências traumáticas, envolvendo situações de violência, crimes, dramas sociais, acidentes e toda sorte de eventos perturbadores. Ao lidar com esse tipo de acontecimentos, os policiais estão expostos a uma realidade que pode afetar profundamente sua saúde mental e emocional.

O trauma vicário estaria relacionado ao impacto psicológico que os profissionais da polícia experimentam ao testemunhar ou se deparar com o sofrimento de outras pessoas com uma frequência muito grande. Diariamente, eles são confrontados com cenas de violência, tragédias e, infelizmente, a destruição e perda de vidas humanas. Essas experiências podem desencadear uma intensa resposta emocional, criando uma carga emocional que vai além das próprias vivências traumáticas.

A empatia inerente aos policiais, essencial para um serviço eficiente à comunidade, também pode se tornar uma fonte de vulnerabilidade. Ao se colocarem no lugar das vítimas e seus entes queridos, os policiais podem absorver a dor e o sofrimento alheios. Essa identificação com o outro é uma habilidade humana notável, mas, ao mesmo tempo, pode levar ao esgotamento emocional e psicológico se o policial não tiver a educação emocional e o amparo necessários.

O acúmulo dessas experiências pode resultar em uma série de sintomas que caracterizam o trauma vicário. Ansiedade, depressão, flashbacks, pesadelos e mudanças no humor são apenas algumas das manifestações possíveis. Além disso, pode ocorrer uma sensação de "panela de pressão", onde os policiais podem se desconectar de suas próprias emoções, hipertrofiando e utilizando de maneira excessiva, não saudável, determinados mecanismos de defesa, buscando uma forma de autopreservação. Já falamos do risco de se represar emoções no artigo Saúde Mental Policial: breve análise psicanalítica , lembram ?

A compreensão do conceito de trauma vicário é crucial para a preservação da saúde mental dos profissionais de segurança pública. A terapia pode oferecer um espaço seguro para que eles expressem e processem suas experiências, sem julgamentos ou expectativas. Através do estabelecimento de um vínculo terapêutico forte, podem ser incentivados a explorar suas emoções e pensamentos mais profundos, buscando entender como o trabalho afeta suas vidas pessoais e profissionais. Abrindo as comportas e deixando fluir as ações demandadas por essas emoções represadas. Leia meu artigo sobre Terapia para Policiais: Cuidando da Saúde Mental e Fortalecendo a Resiliência

O trabalho policial é essencial para manter a ordem e a segurança na sociedade, e, como tal, é fundamental que os profissionais envolvidos nessa atividade sejam cuidados e apoiados. O reconhecimento do trauma vicário e a busca por ajuda psicológica podem ser passos importantes na construção de uma força policial mais resiliente, capaz de enfrentar as adversidades do cotidiano com maior equilíbrio emocional e bem-estar psíquico. Assista meu bate-papo onde desenvolvo esse conceito do policial como atleta emocional e a importância de tratá-lo e ampará-lo como tal.

Referências:

https://www.portalraizes.com/trauma-vicario-o-enorme-custo-de-carregar-a-dor-de-outras-pessoas/

https://www.hojemais.com.br/aracatuba/noticia/opiniao/trauma-vicario-o-cuidar-do-cuidador

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"QUEM CUIDA, MERECE CUIDADOS"

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