Os papéis do psicólogo junto aos bombeiros militares em MG Promovendo a Saúde Mental entre Bombeiros: Superando Estigmas e Fortalecendo a Resiliência

ARTIGOS

Diana Gomes de Oliveira

9/1/20236 min read

O texto descreve a atuação da Psicologia no Corpo de Bombeiros Militares de Minas Gerais (CBMMG), destacando a presença de psicólogos. Normalmente a atividade mais conhecida da psicologia na instituição é a atividade clínica, psicoterapia. Nos serviços de saúde conhecidos como NAIS e SAS são oferecidos atendimentos clínicos aos bombeiros e às suas famílias. Muitas vezes observa-se a dificuldade das pessoas em tratar da própria saúde, especialmente da saúde mental. Isso devido a questões complexas tanto culturais como individuais.

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Por Diana Gomes de Oliveira, 1º Ten BM QOS Oficial Psicóloga no 1ºBBM - CBMMG

Formada em psicologia pela UFMG. Especialização pela PUC Minas em Clínica Psicanalítica na Atualidade

Os papéis do Psicólogo junto aos Bombeiros Militares em MG. Promovendo a Saúde Mental entre Bombeiros: Superando Estigmas e Fortalecendo a Resiliência

Há quase 30 anos equipes de saúde atuam para “cuidar de quem salva”. Equipes normalmente compostas por psicólogos, médicos e dentistas, além de técnicos de saúde que trabalham em conjunto com esses especialistas. Atualmente a gestão de saúde do CBMMG é feita pela AAS (Assessoria de Assistência à Saúde) que conta em seu corpo técnico, há alguns anos, com um Oficial de Saúde da psicologia, para apoiar e subsidiar muitas decisões dessa Assessoria. Outros Oficiais psicólogos estão lotados na Academia (ABM), em serviços de saúde conjuntos com a PMMG e em serviços de saúde do CBMMG, NAIS (Núcleo de Atenção à Saúde) e SAS (Seção de Atenção à Saúde). Tal modo de funcionamento revela a importância que o serviço de saúde mental alcançou nos últimos anos na corporação.

A seguir faz-se um relato de experiência de uma psicóloga do CBMMG que atua em Unidade Operacional (Batalhão) apoiando e assessorando os comandos e os militares daquela Unidade. Importante ressaltar que esse relato de experiência, como o próprio nome diz, não expressa a totalidade e a diversidade do trabalho de todos os psicólogos no CBMMG, mas faz um recorte específico da experiência da autora do presente texto.

Os bombeiros militares enfrentam situações envolvendo emergências, desastres, mortes e acidentes com potencial de impacto emocional bastante alto. Situações que não poderiam ser enfrentadas por pessoas sem treinamento adequado ou que requeiram traços de coragem mais marcantes em seus trabalhadores, devido ao desafio que representam, são comumente atraentes para os bombeiros militares. Atuando em águas perigosas, salvamento em altura, ambientes tóxicos de fumaça, entre outros contextos desafiadores, os bombeiros se sentem úteis e satisfeitos, desde contem com as condições de trabalho necessárias, entre elas recursos logísticos, recursos humanos e cuidado da saúde. Apesar da satisfação em realizar o seu trabalho, esses heróis também são humanos e, cada um em sua subjetividade, pode apresentar-se adoecido emocionalmente devido a uma diversidade de questões de vida e mesmo devido ao próprio trabalho. Por mais que gostem do que façam e recebam reconhecimento social importante pelo seu trabalho, nenhum fator protetivo é capaz de evitar totalmente o aparecimento de adoecimento mental no trabalhador. Estar constantemente sendo requisitado a lidar com situações complexas pode se tornar um fator precipitante no agravamento de quadros de adoecimento mental ou mesmo desencadeá- los. Nesse sentido, orientar e acolher são dois pontos importantes de intervenção da psicologia nesse tipo de atividade. Orientar, preventivamente e acolher em eventuais manifestações de sintomas após atuação dos bombeiros em ocorrências complexas.

Normalmente a atividade mais conhecida da psicologia na instituição é a atividade clínica, psicoterapia. Nos serviços de saúde conhecidos como NAIS e SAS são oferecidos atendimentos clínicos aos bombeiros e às suas famílias. Muitas vezes observa-se a dificuldade das pessoas em tratar da própria saúde, especialmente da saúde mental. Isso devido a questões complexas tanto culturais como individuais. A resistência em procurar ajuda psicológica pode ser resultado da defesa ao estigma de fraqueza presente na sociedade, onde são incentivados a mostrarem-se sempre bem, fortes e sem vulnerabilidades. Nesse sentido, oferecendo atendimento à família militar, acredita-se que aumentam as chances das pessoas buscarem ajuda psicológica, ao observar os efeitos positivos em pessoas próximas. Efeito semelhante pode ser notado quando um chefe ou autoridade que o militar respeita indica ou aconselha a busca por escuta profissional. É importante que o militar entenda que o autocuidado é uma das maiores manifestações de amor para consigo mesmo, e encontrar um profissional de confiança seria o primeiro passo, após verificar a necessidade do auxílio profissional.

A atuação preventiva tem sido uma abordagem frequente não apenas na experiência desta autora, mas do serviço de saúde mental na Corporação como um todo. Exemplo disso é a recente mudança no Programa de Saúde Ocupacional (PSOBM) que passou a ter a consulta psicológica obrigatória para todos os militares, sendo assim, a cada dois anos todos os militares terão passado por uma consulta psicológica, o que será de grande valia na prevenção de agravos de saúde, principalmente nos casos em que o bombeiro esteja manifestando sintomas iniciais de adoecimento. Algumas experiências nesse sentido dentro da corporação revelaram o grande interesse dos militares por essa abordagem oportuna, enaltecendo a iniciativa da AAS e do serviço de psicologia.

O serviço de psicologia atua ainda apoiando os trabalhadores buscando prevenção do adoecimento através da psicoeducação, da divulgação de informações importantes sobre autoconhecimento; orientações sobre relacionamentos interpessoais, seus desafios e conflitos; fornecendo orientações sobre manejo de estresse, entre outros aspectos. Muitas vezes o psicólogo na Corporação precisa ir a campo, estar junto, acompanhando os desafios de trabalho, que são sempre atualizados, fazendo sua clínica também fora do consultório. O que é conhecido como atividade de “Saúde Mental e Trabalho”, ou “Clínica da Atividade”. Exemplos de atividades realizadas na abordagem da Saúde Mental no Trabalho tem-se a presença dos psicólogos na Operação de Brumadinho, ocasião que estiveram nos postos de saúde avançado, mas não se limitando ao consultório instalado ali, fazendo buscas ativas aos militares no centro de operações, assessorando comandos e chefias e até mesmo apoiando a comunidade local. Essa experiência trouxe grande aprendizado sobre o trabalho dos bombeiros, seus desafios e formas de organização diante de eventos complexos.

No dia a dia os psicólogos também atuam com frequência abordando as questões de saúde mental no trabalho, fazendo acompanhamento do serviço operacional, realizando reuniões, palestras e rodas de conversa para entender as principais dificuldades dos bombeiros, produzindo relatórios e assessorando os seus respectivos comandos quanto às questões de gestão de pessoas, gestão de conflitos e prioridades nas demandas dos militares. Atuam ainda em comissões de reajustamento funcional quando do retorno dos militares de licenças médicas ou durante o período de recuperação, quando os bombeiros têm a saúde parcialmente preservada e podem trabalhar sem prejuízo para a sua recuperação.

Outras atividades realizadas pela psicologia na corporação incluem participação nas seleções dos concursos externos, desde a fase do credenciamento de clínicas que farão os exames até a fase final, quando supervisionam e fazem auditoria dos resultados dos exames psicológicos. Na formação dos militares os psicólogos participam ministrando aulas com temas afins à psicologia tais como

relacionamentos interpessoais e gestão e liderança. Participam de comissões técnicas que tratam de temas relevantes à saúde geral e à saúde mental, segurança no trabalho, atualização de legislações de saúde e assessoramento à AAS.

Portanto, a variedade de atividades do serviço de psicologia no CBMMG é muito grande e ainda está em construção, acompanhando as necessidades dos bombeiros no cenário de trabalho atual bastante complexo, que exige atualização constante. Muito se deve aos profissionais da psicologia que abriram caminho construindo um espaço de credibilidade junto à tropa e aos comandos. A consolidação da valorização da saúde mental no ambiente militar encontra no momento atual grandes oportunidades de servir à altura daqueles que se arriscam todos os dias para salvar vidas.

"QUEM CUIDA, MERECE CUIDADOS"

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