INSÔNIA, ZOLPIDEM E VÍCIO

CRISE POLICIALARTIGOS

Lucas Pereira

9/5/20237 min read

No texto, foi abordada a insônia como um desafio prevalente na sociedade, destacando seu impacto na qualidade de vida e desempenho diurno. Além disso, exploramos o mecanismo de ação do zolpidem, um medicamento frequentemente usado para tratar a insônia, e seus efeitos adversos. Vale ressaltar que a dependência de zolpidem é um aspecto crítico, e é importante notar que até mesmo o fundador do projeto "Cuide-se Policial" enfrentou dificuldades pessoais relacionadas a essa dependência. Esse tema é de extrema relevância, especialmente para profissionais da segurança pública. Para obter mais informações sobre esse assunto crucial e como ele afeta a saúde dos profissionais da área, continue explorando e aprofundando seu conhecimento.

Papo muuuito sério...

Por Alvaro Schneider

Psicólogo Cognitivo Comportamental, Ênfase em consumo e dependência de drogas, CRP 09/17157. Instagram @lucasp.psi, gerenciamentolpg@gmail.com , lucaspgomes.com.br , Whatsapp

INSÔNIA, ZOLPIDEM E VÍCIO

INSÔNIA

A insônia é um problema recorrente em grande parcela da população mundial, que consiste em um tipo frequente de perturbação do sono definido por uma contínua dificuldade em iniciar ou preservar o sono, ou ainda, um sono não reparador seguido por prejuízo diurno subsequente. Os distúrbios do sono associados à insônia frequentemente se revelam como obstáculos para adormecer, manter a continuidade do sono ou acordar excessivamente cedo pela manhã, muito antes do horário desejado, independentemente das circunstâncias adequadas para dormir em todas as noites. A insônia pode causar um impacto significativo no funcionamento durante o dia, resultando em redução da eficiência no ambiente de trabalho, tendência a equívocos e incidentes, incapacidade de foco, sonecas diurnas frequentes, dificuldades no controle inibitório o deixando o indivíduo mais impulsivo, ansioso, propenso a tomada de decisões imprecisas, baixa qualidade de vida entre outros diversos prejuízos.

Os sintomas de insônia aparecem em até 50% da população adulta, com 10-15% dos indivíduos apresentando sintomas graves que causam sofrimento ou prejuízo, preenchendo os critérios para transtorno de insônia. Os fatores de risco incluem o aumento da idade, o sexo feminino, condições médicas comórbidas, trabalho por turnos e, possivelmente, baixo estatuto socioeconómico e desemprego.

Conforme os critérios estabelecidos no DSM-V, a insônia crônica é caracterizada por dificuldades para iniciar e manter o sono. Sintomas como acordar prematuramente pela manhã e experienciar fadiga, falta de foco e oscilações de ânimo ao longo do dia também são frequentemente mencionados. Esses sinais devem perdurar por no mínimo três meses e resultar em desconforto considerável antes que o diagnóstico possa ser confirmado. Os distúrbios de sono associados à insônia geralmente se apresentam como dificuldades em adormecer, manter o sono de forma contínua (despertar durante a noite e encontrar dificuldade em voltar a dormir) ou acordar excessivamente cedo pela manhã, muito antes do horário desejado, independentemente das circunstâncias adequadas para dormir todas as noites.

A insônia pode ter um impacto notável na funcionalidade diurna, levando a uma redução da eficiência no ambiente de trabalho, maior propensão a erros e acidentes, incapacidade de manter a concentração, ocorrência frequente de cochilos durante o dia e uma diminuição geral na qualidade de vida. A apresentação desse quadro é ligeiramente divergente em crianças e frequentemente é caracterizada por sintomas como acordar durante a noite, resistência em ir para a cama e dificuldade em adormecer sem auxílios externos. A insônia pode prejudicar o desempenho acadêmico, as atividades diárias de brincadeira, a capacidade de se concentrar e contribuir para desafios comportamentais.

MECANISMO DE AÇÃO

Zolpidem, um agente hipnótico não benzodiazepínico, atua como um ácido gama-aminobutírico (GABA), um modulador/agonista do canal de cloreto do receptor que aumenta os efeitos inibitórios do GABA, levando à sedação. O receptor GABAa, também chamado GABA-BZ, é encontrado nas regiões corticais sensório-motoras, globo pálido, colículo inferior, ponte, complexo talâmico ventral, bulbo olfatório, cerebelo e substancial no cérebro. A droga regula positivamente esses receptores, permitindo os efeitos sedativos que levam à preservação do sono profundo.

Diferentemente dos benzodiazepínicos, que se ligam e ativam de forma não seletiva todos os subtipos de receptores de benzodiazepínicos (BZ), o zolpidem in vitro liga-se ao receptor BZ1 preferencialmente com uma alta proporção de afinidade das subunidades alfa1/alfa5. A ligação seletiva do zolpidem ao receptor BZ1 pode explicar a relativa ausência de efeitos relaxantes e anticonvulsivantes. Globalmente, o zolpidem não é recomendado para a população em geral como tratamento de primeira linha devido ao seu elevado potencial de abuso. Drogas como melatonina de liberação controlada e doxepina podem ser usadas como terapia de primeira linha, sempre levando em consideração um acompanhamento profissional especializado, além da higiene adequada do sono e da terapia cognitivo-comportamental para pacientes com insônia.

EFEITOS ADVERSOS

Alguns efeitos adversos incluem anafilaxia, mudanças de comportamento, abstinência e depressão do sistema nervoso central (SNC). Em situações raras, os pacientes relataram inchaço da língua, laringe ou glote na forma de angioedema. Além disso, os pacientes relataram falta de ar, fechamento das vias aéreas, náuseas e vômitos. Se os pacientes relatarem isso, não é indicado a continuidade do uso do medicamento pelo paciente. Pacientes que apresentam fechamento na garganta, glote ou laringe devem ser encaminhados ao pronto-socorro.

Mudanças no comportamento e pensamento anormal também foram relatadas. Além disso, os pacientes apresentam agressividade e extroversão, o que é anormal no comportamento habitual da pessoa. Pacientes com toxicidade por álcool ou drogas experimentaram alucinações auditivas e visuais associadas a comportamento estranho e agitação. Descobriu-se também que o paciente apresentava um comportamento denominado dirigir durante o sono, no qual o paciente dirige sem estar totalmente acordado após a ingestão de sedativo-hipnótico, sem nenhuma lembrança do evento. Descobriu-se que o consumo de álcool ou qualquer outro depressor do SNC aumenta esses eventos, pois aumentam a sedação quando combinados. Nestes casos, o medicamento precisa ser descontinuado. Pacientes deprimidos também não devem tomar zolpidem, pois piora a depressão e as ideações e ações suicidas.

TRATAMENTO PADRÃO OURO

O tratamento padrão ouro para insônia é a Higiene do Sono (HS). Sendo ela uma série de comportamentos que executados de forma separadas não tem grandes influência, mas na perspectiva do todo, representa um tratamento da mais alta qualidade para esse problema. Ficar exposto a luz solar direta ou indireta logo ao acordar para sinalização ao seu organismo para que “inicie o dia” cerca de 30-40 minutos, evitar a ingestão de cafeína ou estimulantes após as 15:00, evitar telas, luzes fortes ou estímulos fortes pelo menos 3 horas antes da hora programada para dormir, e claro, a rotina de acordar e dormir sempre nos mesmos horários são algumas das indicações de um protocolo de higiene do sono.

A abordagem para tratar a insônia deve ser de caráter multidisciplinar, concentrando-se na aplicação de intervenções comportamentais, na promoção da higiene do sono, no manejo de fatores de estresse psicológico e na terapia medicamentosa, quando necessária. As abordagens terapêuticas mais bem-sucedidas combinam terapia cognitivo-comportamental com tratamento farmacológico (para pacientes com algum problema crônico de insônia como apneia, por exemplo) para reduzir a quantidade necessária e quaisquer efeitos secundários decorrentes. Hipnóticos não pertencentes à classe das benzodiazepinas, como zolpidem, eszopiclona e zaleplon, são os mais empregados como complemento terapêutico. Um dos hipnóticos frequentemente utilizados é o zolpidem. No entanto, o zolpidem apresenta uma vasta gama de reações adversas, além de algumas considerações especiais mencionadas na literatura.

TOXICIDADE

A overdose de drogas com zolpidem envolve depressão do SNC, deficiências cognitivas que levam à sonolência ou coma, depressão cardiovascular e respiratória e outras mortes. A toxicidade aguda do zolpidem é menos grave do que outros benzodiazepínicos de ação curta, como triazolam e midazolam. Porém, na intoxicação combinada com outros depressores do SNC, o zolpidem pode induzir o coma em pacientes mesmo em baixa concentração. A intoxicação por um único medicamento é benigna e não deve exigir intervenção terapêutica.

Se o paciente apresentar algum sintoma, a lavagem gástrica só deve ser tentada dentro de uma hora após a ingestão; os benefícios superam os riscos e se o paciente estiver consciente com reflexo de vômito ou intubado. Os pacientes também podem se beneficiar da administração de flumazenil e fluidos intravenosos. O flumazenil é um conhecido agente de reversão da toxicidade dos benzodiazepínicos; no entanto, pode contribuir para a exacerbação de outros sintomas neurológicos, como atividade convulsiva. Em caso de toxicidade do medicamento, a função respiratória do paciente, a saturação de oxigênio, a pressão arterial, o pulso e outros sinais vitais devem ser monitorados.

REFERÊNCIAS

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"QUEM CUIDA, MERECE CUIDADOS"

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