Entendendo o Burnout: Uma Abordagem Abrangente às Pressões do Trabalho

CRISE POLICIALARTIGOS

Alvaro Schneider

8/25/202310 min read

Descubra o que vai além das tradicionais ideias sobre exaustão no ambiente de trabalho. O conceito de burnout evoluiu para abranger uma complexa rede de fatores interligados, desde carga de trabalho e controle até relações interpessoais e valores pessoais. Neste intrigante texto, mergulhamos em novas perspectivas sobre o burnout, explorando como ele transcende o indivíduo para se tornar um fenômeno social. Conheça as dimensões ocultas dessa síndrome que não apenas afeta, mas muitas vezes se propaga por grupos de trabalho, e descubra estratégias abrangentes e realistas para prevenir e tratar essa realidade moderna. Se você está pronto para redefinir sua compreensão do burnout e desvendar suas raízes profundas, este é um convite à reflexão que você não pode perder.

Tema muito importante...

Por Alvaro Schneider

Bacharel em Psicologia e Especialista em Psicologia Clínica. Instagram @psi.alv, alv.schneider@gmail.com

Entendendo o Burnout: Uma Abordagem Abrangente às Pressões do Trabalho

PRIMEIRAMENTE, O QUE É BURNOUT?

Burnout é uma síndrome psicológica que surge como resposta a estressores crônicos e prolongados vivenciados no ambiente de trabalho. Ela é caracterizada por três dimensões principais: exaustão avassaladora, sentimentos de cinismo e distanciamento do trabalho, e uma sensação de ineficácia e falta de realização. Esse modelo tridimensional coloca a experiência de estresse do indivíduo em um contexto social e envolve a percepção que têm de si mesmo e dos outros.

Inicialmente, acreditava-se que o burnout se desenvolvia em estágios, com a exaustão surgindo primeiro devido a altas demandas e sobrecarga, levando ao distanciamento e atitudes negativas em relação ao trabalho (cinismo), e finalmente resultando em sentimentos de inadequação e fracasso (realização pessoal reduzida). No entanto, esse modelo evoluiu para reconhecer que o burnout é influenciado por diversos fatores além apenas da carga de trabalho.

Apesar de frequentemente ter origem no trabalho, qualquer pessoa que se sinta sobrecarregada e desvalorizada está em risco de burnout, desde o trabalhador de escritório esforçado que não tira férias há anos até a mãe exausta que cuida dos filhos, das tarefas domésticas ou de um parente idoso. Como as pessoas experimentam sua carga de trabalho tem uma influência maior no desenvolvimento do burnout do que as horas trabalhadas. Em outras palavras, não é apenas a quantidade de horas que você trabalha, é como você é gerenciado e como você vivencia o trabalho durante essas horas.

O burnout se diferencia do estresse por ser caracterizado por sentimentos de vazio, falta de motivação e uma sensação de desesperança. Não é causado apenas pela carga excessiva de trabalho. Outros fatores como falta de controle, reconhecimento e apoio também desempenham um papel crucial. O burnout pode ter consequências negativas como insatisfação no trabalho, menor produtividade, absenteísmo e rotatividade de funcionários.

Vejamos como podemos compreender melhor o burnout...

NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE O BURNOUT

No mundo do trabalho moderno que se encontra em constante evolução, o conceito de burnout transformou-se de uma simples consequência de horas de trabalho exaustivas para uma complicada combinação de diversos fatores. Embora se tenha acreditado por muito tempo que o burnout é apenas um resultado do excesso de trabalho, uma compreensão mais detalhada se mostrou evidente – uma que explora o intricado cenário formado pelo estresse relacionado ao trabalho, mecanismos individuais de enfrentamento e a dinâmica da gestão. Essa mudança de paradigma destaca a necessidade de uma perspectiva abrangente que lide não apenas com a quantidade de trabalho realizado, mas também com os elementos fundamentais que contribuem para o surgimento e permanência do burnout.

Compreendendo o burnout sob uma perspectiva contemporânea, há um modelo chamado Áreas de Vida no Trabalho (AVT). Este modelo considera o estresse no trabalho não só como muitas tarefas, mas também como problemas em outras áreas essenciais, sendo: carga de trabalho, controle, recompensas, comunidade (relações entre colegas), justiça/equidade e valores. Quanto maior for o desiquilíbrio entre essas áreas, maior será a chance de burnout. Porém, quanto mais essas áreas estiverem em harmonia, maior o engajamento com o trabalho.

A sobrecarga de trabalho contribui para o burnout porque esgota a energia do sujeito para lidar com as demais demandas do trabalho. Quando essa sobrecarga é constante, não sobra tempo para descansar e recuperar o equilíbrio. Por outro lado, um volume de trabalho sustentável e que é possível administrar oferece oportunidades para utilizar e aprimorar as habilidades que o indivíduo já tem, além de possibilitar o seu desenvolvimento em outras áreas.

Uma associação clara foi encontrada entre a falta de controle e o burnout. Observou-se o seguinte fato: quando os funcionários sentem que têm poder para influenciar as decisões que afetam o trabalho deles, quando têm autonomia para agir profissionalmente e conseguem os recursos necessários para fazer um bom trabalho, a chance de se sentirem envolvidos e satisfeitos no trabalho aumenta.

Reconhecimento e recompensa insuficientes (seja financeiros, institucionais ou sociais) aumentam a probabilidade das pessoas de sofrerem burnout, porque desvalorizam tanto o trabalho quanto os trabalhadores, e estão intimamente associados a sentimentos de ineficácia e inutilidade. Por outro lado, se houver reconhecimento, o trabalhador se sentirá muito mais apto a realizar as tarefas encarregadas, justamente por haver tanto o incentivo extrínseco (financeiro) quanto o intrínseco (motivacional).

As relações com colegas também são um ponto chave, pois é o que promove o sentimento de comunidade e coletividade. Se as relações no trabalho são difíceis, com falta de apoio, desconfiança, assédio e brigas não resolvidas, o ambiente de trabalho torna-se solo fértil para o desenvolvimento do burnout. Por outro lado, quando as relações no trabalho são positivas, com o apoio de colegas, companheirismo e respeito, o engajamento com o trabalho aumenta, já que o ambiente passa a ser propício para o desenvolvimento técnico e pessoal.

A justiça e equidade é aquilo que garante a cooperação mútua dos trabalhadores ao garantir respeito e decisões razoáveis que não tem tendência para alguma das partes (como colegas da mesma hierarquia ou superiores). O sentimento que as decisões no trabalho não são justas ou quando há falta de respeito fomentam sentimentos negativos como frustração, desconfiança, raiva, descontentamento, desesperança e cinismo.

Valores representam os ideais e motivações que inicialmente atraíram as pessoas para suas ocupações, constituindo assim a ligação motivacional entre o indivíduo e o ambiente de trabalho. Essa conexão vai além da simples troca de tempo por dinheiro ou progresso. Quando ocorre um conflito de valores no contexto profissional, resultando em um desalinhamento entre os valores pessoais e os da organização, os trabalhadores se encontram diante de uma contradição entre aquilo que eles acreditam/valorizam e aquilo que lhes são ordenados a executar. Esse dilema pode levar a um aumento significativo do risco de burnout.

O BURNOUT NÃO É SOBRE APENAS UM INDIVÍDUO

O burnout tem sido frequentemente associado a várias formas de reações negativas e afastamento do trabalho, incluindo insatisfação no emprego, baixo comprometimento organizacional, absenteísmo, intenção de deixar o emprego e rotatividade. Por exemplo, o cinismo tem sido identificado como o aspecto crucial do burnout para prever a rotatividade. O cinismo no trabalho refere-se a uma atitude negativa e desconfiada em relação ao trabalho, aos colegas, à organização e até mesmo aos objetivos da empresa. Pessoas que apresentam cinismo no ambiente de trabalho tendem a manifestar uma falta de confiança nas intenções e ações dos outros, muitas vezes acreditando que os esforços coletivos são inúteis ou que as decisões da administração não são autênticas. Essa atitude cínica pode se manifestar de várias maneiras, como sarcasmo, descrença, desencanto e até mesmo hostilidade disfarçada. Indivíduos cínicos frequentemente podem expressar opiniões pessimistas sobre projetos, metas ou iniciativas da empresa, desvalorizando o trabalho em equipe e desconfiando das intenções dos colegas e superiores.

O cinismo está mais claramente ligado ao ambiente de trabalho, em termos da baixa qualidade das relações sociais no trabalho e da falta de recursos essenciais, o que resultará em menor satisfação no trabalho e baixo desempenho profissional. Por isso, o cinismo pode ser considerado um melhor indicativo de burnout do que a exaustão.

Para aqueles que permanecem no emprego, o burnout resulta em menor produtividade e qualidade de trabalho prejudicada. À medida que o burnout diminui as oportunidades de experiências positivas no trabalho, ele se correlaciona com a redução na satisfação no emprego e a um comprometimento reduzido com o trabalho ou a organização.

Pessoas que estão experienciando o burnout podem impactar negativamente seus colegas, tanto agravando conflitos pessoais quanto interrompendo tarefas de trabalho. Assim, o burnout pode ser "contagioso" e perpetuar-se por meio de interações sociais no ambiente de trabalho. A importância de uma visão crítica das relações sociais para o burnout é enfatizada por estudos que demonstram que o burnout aumenta em ambientes de trabalho caracterizados por agressão interpessoal. Essas descobertas sugerem que o burnout deve ser considerado como uma característica de grupos de trabalho, em vez de simplesmente uma síndrome individual.

De acordo com um estudo da Gallup (2020), cinco fatores se destacaram no ambiente de trabalho que contribuíam para o burnout:

1. Tratamento injusto no trabalho

2. Carga de trabalho inadministrável

3. Comunicação pouco clara por parte dos gestores

4. Falta de apoio por parte dos gestores

5. Pressão de tempo irrazoável

Todos esses cinco fatores são significativamente influenciados pelo comportamento dos gestores. Os gestores têm a responsabilidade de proteger contra tratamento injusto no local de trabalho, comunicar de forma clara e fornecer suporte. Além disso, os gestores devem defender e serem aliados de seus membros e colegas de equipe quando se trata de priorização, gerenciamento de carga de trabalho e estabelecimento de expectativas razoáveis com trabalhadores.

Gestores ineficazes se tornam a causa do burnout, em vez de evitá-lo. Eles tratam os funcionários de forma injusta, os sobrecarregam com expectativas impossíveis e oferecem pouco apoio para ajudar os funcionários a alcançá-las. Gestores inadequados e despreparados para gerir não ajudam seus funcionários a superarem essas barreiras para que eles tenham um bom dia de trabalho.

Mas nem sempre é culpa dos gestores. Muitas organizações não fornecem aos seus líderes o treinamento de gestão necessário e o suporte para desempenharem suas funções da maneira devida. Isso pode causar burnout nos próprios gestores, criando expectativas irrealistas e uma percepção de falta de apoio. Dessa forma, o burnout pode facilmente se espalhar por toda a estrutura institucional.

ESTILO DE VIDA PROPÍCIO AO BURNOUT

As causas de estilo de vida do burnout podem surgir de diversas situações que afetam a maneira como os indivíduos vivem e equilibram suas responsabilidades. Uma dessas causas está relacionada ao excesso de trabalho, quando é dedicado uma quantidade excessiva de tempo ao trabalho, sem deixar espaço para atividades de socialização ou momentos de relaxamento. Essa falta de tempo para interações sociais e momentos de lazer pode contribuir significativamente para o esgotamento emocional.

Outra causa está ligada à falta de relações próximas e apoio emocional. O isolamento social e a ausência de relacionamentos próximos podem ser fatores importantes no desenvolvimento do burnout. A falta de um sistema de apoio emocional pode aumentar a sensação de sobrecarga e desgaste, tornando mais difícil lidar com as pressões do dia a dia. Além disso, a sobrecarga de responsabilidades também pode desempenhar um papel significativo no surgimento do burnout. Assumir um grande número de tarefas e compromissos sem ter ajuda suficiente pode ser esgotante, levando a um sentimento de sobrecarrega constante e diminuindo a capacidade de cuidar de si mesmo.

A falta de sono adequado é outra causa de estilo de vida que contribui para o burnout. A privação de horas de sono adequadas pode afetar negativamente nossa saúde física e mental. A falta de sono interfere no funcionamento cognitivo, emocional e na nossa capacidade de lidar com o estresse, o que pode aumentar o risco de desenvolver o burnout.

PREVENÇÃO E TRATAMENTO

Tirar férias pode proporcionar um tempo para descanso, relaxamento e recuperação, o que pode ajudar a reduzir temporariamente a exaustão física. No entanto, o burnout não se limita apenas ao cansaço físico; também envolve sentimentos de desânimo, falta de motivação, cinismo em relação ao trabalho e percepção de ineficácia. Esses aspectos emocionais e psicológicos do burnout geralmente não são resolvidos apenas com um período de férias.

A prevenção e o tratamento do burnout envolvem uma abordagem abrangente que aborda tanto os fatores relacionados ao trabalho quanto os aspectos individuais e de gestão. Para evitar o burnout, é importante adotar medidas como o gerenciamento adequado da carga de trabalho, evitando sobrecarregar os funcionários com excesso de tarefas e responsabilidades. Além disso, oferecer controle e autonomia aos funcionários pode aumentar seu senso de autodeterminação e reduzir o risco de burnout.

A comunicação clara também desempenha um papel fundamental na prevenção, garantindo que as expectativas estejam claras e evitando ambiguidades e/ou mal-entendidos. Reconhecer e recompensar o bom desempenho dos funcionários é outra estratégia eficaz, pois aumenta a motivação e o sentimento de realização. Além disso, é essencial fornecer apoio gerencial, treinando gestores para oferecer suporte emocional e orientação aos funcionários, criando um ambiente de trabalho onde eles se sintam apoiados.

No que diz respeito ao tratamento do burnout, é crucial oferecer apoio psicológico aos funcionários que estão enfrentando esse problema. Isso pode incluir psicoterapia individual ou em grupo, ajudando-os a lidar com os sentimentos de exaustão e desgaste. Identificar e abordar os fatores no ambiente de trabalho que contribuem para o burnout é essencial, como excesso de carga de trabalho, falta de recursos, falta de controle e assédio.

Além disso, promover o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é fundamental. Incentivar os funcionários a estabelecerem limites saudáveis entre as duas esferas e permitir tempo para descanso e atividades fora do trabalho pode ajudar a reduzir o estresse e prevenir o burnout. O desenvolvimento de habilidades de enfrentamento é outra estratégia valiosa, ensinando aos funcionários técnicas para lidar com o estresse e as pressões do trabalho.

Por fim, fomentar uma cultura de apoio é essencial. Criar um ambiente onde os funcionários se sintam à vontade para expressar suas preocupações e buscar ajuda é crucial. Isso inclui encorajar a comunicação aberta, fornecer recursos de suporte e promover um ambiente de trabalho saudável, com equilíbrio, suporte e oportunidades de crescimento. Em resumo, a prevenção e o tratamento do burnout requerem uma abordagem abrangente que considera os diversos aspectos que contribuem para esse problema, visando criar um ambiente de trabalho positivo e saudável para todos.

REFERÊNCIAS
Maslach C, Leiter MP. Understanding the burnout experience: recent research and its implications for psychiatry. World Psychiatry. 2016 Jun;15(2):103-11. doi: 10.1002/wps.20311. PMID: 27265691; PMCID:PMC4911781.

gallup.com/workplace/288539/employee-burnout-biggest-myth.aspx

https://positivepsychology.com/burnout/

Apoiem nossa causa !!! Compartilhem, sigam nossa página, nossa classe pede socorro.

"QUEM CUIDA, MERECE CUIDADOS"

Posts relacionados