A arte como resgate da subjetividade no contexto profissional: reflexões a partir da Psicologia do Trabalho

ARTIGOSAPOIO AO PROJETOSAÚDE MENTAL

Vitor Barroso Marques

11/9/20233 min read

No texto, destaca-se a importância da arte como uma ferramenta essencial para preservar a subjetividade no ambiente de trabalho, especialmente em cenários desafiadores como a Segurança Pública. Explora como a arte possibilita a expressão individual, o resgate de emoções e o fortalecimento da conexão com a singularidade de cada indivíduo. Além disso, discute a influência da Psicologia do Trabalho. Este artigo convida os leitores a refletirem sobre a relevância da arte na promoção do bem-estar e da saúde mental no contexto profissional.

Tema muito interessante...

Por Vitor Barroso Marques

Ator, DRT 0013322/MG, Graduando em Psicologia na PUC Minas. Instagram: @vitorbmarques vitaobmarques@hotmail.com

A arte como resgate da subjetividade no contexto profissional: reflexões a partir da Psicologia do Trabalho

Quando falamos de trabalho, muitas vezes pensamos em tarefas, horários e responsabilidades. No entanto, o trabalho vai muito além disso. Ele está entrelaçado com quem somos, nossa identidade e nossa forma de encarar o mundo. É nesse contexto que a arte se revela uma aliada valiosa na busca pelo bem-estar e saúde mental, especialmente em ambientes desafiadores.

Imagine o trabalho como um espaço onde cada pessoa traz suas experiências, emoções e visões de mundo. Essa individualidade é o que chamamos de subjetividade. É como se fosse nossa marca pessoal, aquilo que nos torna únicos. No entanto, em alguns contextos, como no ambiente policial, essa subjetividade pode se perder, sufocada por sistemas opressores e excesso de trabalho.

A subjetividade no trabalho é como a “marca registrada” de cada um, a maneira singular de encarar e lidar com as tarefas (ZARIFIAN, 2001). É algo que merece ser valorizado, mas muitas vezes, por conta do peso das responsabilidades, pode ser esquecido.

É nesse ponto que a arte entra em cena. Através dela, podemos resgatar e celebrar a nossa subjetividade, compartilhando nossas emoções, medos e alegrias, criando uma ponte de compreensão com os outros, e, principalmente, conosco mesmos. A arte é uma forma de libertar a autenticidade que muitas vezes fica escondida no dia a dia (IMHOF, 2010). Ela nos convida a explorar as emoções e sentimentos que podem ficar esquecidos sob a pressão do trabalho. Ao falar sobre a importância da arte, não estamos apenas defendendo a criatividade ou o entretenimento. Estamos falando sobre um caminho para reconectar com nossa humanidade. Em um ambiente como o da Segurança Pública, onde a carga de trabalho pode ser avassaladora, isso se torna ainda mais crucial.

No universo laboral, a subjetividade muitas vezes se vê submetida a sistemas que, ao invés de nutri-la, a esgotam. Neste contexto, a Psicologia do Trabalho emerge como uma disciplina essencial para compreender as complexas relações entre o indivíduo e seu ambiente profissional. Ao abordar a influência da arte nesse cenário, somos convidados a vislumbrar a capacidade desta em resgatar e preservar a subjetividade.

A Psicologia do Trabalho, ao estudar as implicações psicológicas do trabalho, destaca a importância da autonomia e da realização pessoal no contexto profissional. Neste contexto, autores como Dejours (1992) e Lancman (2003) salientam que a alienação e o esgotamento psicológico frequentemente decorrem de ambientes laborais que negligenciam a singularidade dos sujeitos.

Contrapondo-se a esse cenário desafiador, a arte surge como um catalisador de possibilidades de expressão e resgate da subjetividade. Através da criação artística, indivíduos encontram espaço para explorar emoções, pensamentos e vivências que muitas vezes são silenciadas no cotidiano profissional. Como afirmou Arendt (1999), a arte possui a potência de nos conectar com nossa singularidade e de nos inserir em um diálogo criativo com o mundo.

Em tempos desafiadores, é fundamental reconhecer a potencialidade da arte como um instrumento de resgate da subjetividade. Ao promover a expressão individual e a conexão com as próprias emoções, a arte se contrapõe ao processo de expropriação da subjetividade, tão comum em ambientes de trabalho opressivos. Dessa forma, o “Cuide-se Policial” não apenas oferece suporte emocional, mas também promove a valorização do indivíduo como um ser único, capaz de criar e transformar sua própria narrativa.

REFERÊNCIAS

ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 1999.

DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez. 1992.

IMHOF, P. Psychodynamique du travail: Les enjeux d’um changement. Éditions de I’Université de Bruxelles. 2010.

LANCMAN, S. Subjetividade e trabalho: uma proposta de intervenção. São Paulo: Escuta. 2003.

ZARIFIAN, P. Objectif compétence: Pour une nouvelle logique. Éditions Liaisons. 2001.

"QUEM CUIDA, MERECE CUIDADOS"

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